segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Esclarecimento sobre Planejamento

Após a postagem da semana passada, relativa à importância do planejamento, troquei algumas mensagens com pessoas interessadas em educação domiciliar... Essas mensagens me fizeram perceber que fui infeliz em algumas colocações e que posso ter expressado mal alguns pontos. Por isso, considerei importante esclarecer o que possa ter ficar duvidoso no artigo anterior.
Em primeiro lugar, preciso deixar claro que, ao afirmar que “o momento educativo mais importante (pelo menos, ao meu ver) e que irá, efetivamente, garantir uma maior probabilidade de sucesso é o planejamento”, não estou dizendo que o planejamento é mais importante do que o afeto, o carinho, o respeito ou qualquer outro elemento sócio-afetivo relacionado à educação. De forma alguma! Para mim, o planejamento é o “momento educativo mais importante”. Explico: no tocante à prática educativa intencional, ao analisarmos as fases do processo, percebemos que há vários momentos educativos. Esses momentos são divididos, basicamente, em: planejamento, execução e avaliação. Desses 3, o planejamento é, sem dúvida, o mais importante.
E onde entra o amor, o cuidado, o contato familiar, o afeto, etc? Esses são elementos indispensáveis, mas que não são, em si, “momentos”. Ao contrário: esses elementos permeiam todos os momentos educativos, sendo o combustível, o lubrificante e o resultado de todo o processo. Neste sentido, com certeza são elementos mais importantes do que o planejamento – afinal, são eles que determinarão as escolhas feitas durante o planejamento.
Um segundo ponto que preciso esclarecer é o próprio conceito de planejamento que utilizei em minha postagem. Isso se faz necessário porque, ao se falar em planejamento, podemos cair no erro de confundir isso com o tão conhecido “planejamento escolar”. E, deveras, não é a isso que me refiro.
Considero planejamento o traçado de caminho a ser seguido. Isso não precisa estar em papel necessariamente, nem seguir uma formatação acadêmica, específica e rígida. Você planeja quando determina onde quer chegar e como chegará lá.
Creio que, para deixar explícito a que me refiro, cabe delinear a seguinte descrição: planejamento é um “momento de escolhas”, nada mais e nada menos do que isso.
Utilizarei um exemplo que se mostrou bastante propício em minhas conversas sobre o assunto...
Se você é pai de uma criança que está aprendendo a andar, poderá por optar por utilizar ou não um instrumento de “auxílio” para seu filho: o andador. Alguns consideram esse elemento uma ajuda, enquanto outros acreditam que ele mais atrapalha do que auxilia no desenvolvimento natural da habilidade de ficar em pé e caminhar. Logo, você terá que analisar a situação, avaliar os prós e os contras e decidir se utilizará ou não o andador. Isso é planejamento: você está decidindo/planejando se utilizará o andador ou não.
Só para esclarecer, podemos dizer que a criança usar o andador durante os dias é a execução, enquanto a avaliação é o momento em que você vê os resultados e analisa se foram satisfatórios ou não de acordo com a expectativa que se criou.
Estamos constantemente planejando, todos os dias – mesmo que não nos demos conta disso. Planejamos por que caminho iremos ao trabalho para chegarmos mais rápido, planejamos como cortar gastos, planejamos viagens de férias, etc. O planejamento é uma atividade essencialmente humana. Planejar é natural.
Se você decidiu ensinar seus filhos em casa e não mandá-los para a escola, isso é planejamento. Você analisou a situação, considerou as opções, os prós e os contras, e fez uma decisão. Essa decisão é seu planejamento (repito: planejamento é o momento das decisões).
Neste sentido, volto a afirmar: o planejamento é o momento mais importante. Por quê? Porque é nele que decidimos o que será feito. Alguns decidem utilizar um currículo ou material específico para seus filhos que serão ensinados em casa, enquanto outros preferem selecionar ou criar o próprio currículo e os próprios materiais a serem utilizados, outros, ainda, optam por deixar o processo de aprendizagem ocorrer de forma mais livre... Não estou aqui para defender um dessas opções específicas, mas para defender que a decisão dos pais seja feita de forma consciente, considerando-se cuidadosamente a situação familiar, os objetivos da mesma e a opção que melhor irá corresponder a isso.
Se “planejar” evoca uma imagem negativa, não precisamos utilizar essa expressão. Mas é um fato inquestionável que se faz necessário a cada família analisar seus desejos e necessidades e fazer uma escolha quanto à forma de educar suas crianças. O “momento de decisão” é o mais importante, pois nele cada um irá determinar como irá proceder para alcançar o sonho que sonhou para suas crianças. Os caminhos a serem seguidos irão depender dos objetivos de cada um, mas a qualidade das decisões tomadas e a convicção de manter-se firme a elas é o que determinará por quais caminhos seguir e se haverá sucesso ao final da caminhada.
Decidir é preciso. Por isso, planejar é preciso.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Planejamento

É fato que, tanto na educação escolar quanto na domiciliar, o que mais preocupa os educadores enquanto momento educativo é a execução, ou seja, a aula em si. Esse momento, no qual educador e educando estão cara-a-cara e deve-se, de alguma forma, utilizar dinâmicas e técnicas para transmitir e fixar os conteúdos e desenvolver as habilidades/competências parece ser o que mais consome a mente e os sentimentos de quem pretende ensinar. Porém, definitivamente, a execução não é o momento mais crítico do processo de ensino-aprendizagem.
Com efeito, o momento educativo mais importante (pelo menos, ao meu ver) e que irá, efetivamente, garantir uma maior probabilidade de sucesso é o planejamento.
O planejamento é o momento em que se respondem perguntas tais como:

  • Quais são meus objetivos?
  • O que vou ensinar?
  • Como vou ensinar?
  • Que meios utilizarei?
  • Onde ser dará o processo?
  • Quanto tempo irei dedicar a esse aspecto?
  • Como iremos avalizar o processo?
  • Etc.

Como é possível perceber, um planejamento bem-feito é capaz de extinguir qualquer dúvida ou insegurança sobre o momento de execução. Afinal, o planejamento constitui-se como um “mapa” a se seguido, um caminho a ser traçado. E, neste sentido, o “andar pelo caminho traçado” constitui-se, justamente, a execução – o momento “cara-a-cara”.
Muitos processos educativos fracassam simplesmente por ocorrerem a “golpes de facão”, ou seja, totalmente no improviso, sem um planejamento consistente. Muitos educadores acreditam que podem chegar diante do educando e fazer “qualquer coisa” para o ensinar e que, assim, o processo educativo irá progredir. Uma pessoa que pensa/age assim deve ser, com certeza, ou ingênua ou relapsa.
Obviamente uma criança irá aprender mesmo que o processo educativo seja improvisado. Porém, a qualidade desse aprendizado será ínfima se comparada com o potencial educativo de um processo bem planejado.
No caso da educação domiciliar, por sua própria natureza, o planejamento se torna ainda mais importante. Afinal, o locus do processo educativo é, também, o cenário de inúmeras outras atividades e processos do cotidiano familiar, e o impacto de um ensino doméstico irá exigir cuidados redobrados com a rotina, com os recursos, espaços e atividades de toda a família. Se o trabalho de se ensinar as crianças em casa não for bem pensado e planejado, poderá ocasionar problemas seríssimos para toda a estrutura familiar.
O planejamento é importante, não somente para a organização macro do processo domiciliar de educação (local, horários, materiais), mas também para a micro. Ou seja, antes de se iniciar uma aula, faz-se necessário que o professor-mestre pare para planejar como será essa aula. Como já falamos, isso lhe dará maior segurança e potencializará grandemente o momento de estudo.
Neste sentido, cabe ressaltar que os elementos principais de um planejamento de aula são:

  • Tema;
  • Objetivo geral;
  • Dinâmica;
  • Objetivos específicos;
  • Técnicas;Instrumentos.

Obviamente, um planejamento, por mais bem feito que seja, nunca será 100% à prova de falhas. É impossível prever todas as variantes de uma aula ou imprevistos que podem ocorrer. Por isso, deve-se sim estar preparado para adaptar o planejamento e exercitar o improviso. Isso é essencial. Entretanto, o improviso deve ser uma ferramente, e não um determinante do processo. O planejamento consciente e bem delineado deve ser a regra, enquanto o improviso deve ser, meramente, a exceção.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Introdução aos Cuidados com a Ed. Domiciliar

Talvez muitos estranhem o que vou dizer agora, mas creio que no decorrer deste artigo tudo ficará claro...
O fato é que não devemos cair no fanatismo de pensar que a educação domiciliar em si seja garantia de resultados positivos para a educação de uma criança.
Por que digo isso? Porque muitas vezes, em nosso ânimo e anseio por defender o homeschooling, caímos no erro de vermos ele como uma utopia educacional. Nessa utopia, fantasiamos que, pelo simples fato de ensinarmos nossos filhos em casa, o sucesso educacional dos mesmos está garantido.
Sei que isso ocorre, na maior parte dos casos, de forma inconsciente, mas é comum ouvirmos o seguinte discurso: “O sistema escolar é inadequado para as crianças, e causa mais problemas do que resolve. Por isso precisamos ter o direito de ensinar nossos filhos em casa, para dar uma educação de qualidade a eles”. Parece correto, não parece? E superficialmente está, mas quando analisamos essa fala mais a fundo podemos identificar um grande engano: considerar que a educação domiciliar por si só naturalmente irá garantir uma educação de qualidade. Com efeito, isso não é verdade!
Assim como qualquer outro processo, a educação domiciliar só terá resultados positivos caso sejam observados vários cuidados básicos. Por mais raras que sejam estas palavras vindas de um defensor do ensino doméstico, não posso deixar de afirmar: caso os aplicadores do homeschooling não sejam criteriosos durante o planejamento e a efetivação da instrução, esse processo educativo estará fadado ao mais retumbante dos fracassos.
Inclusive, tenho que ir além... Como pesquisador educacional é minha responsabilidade alertar aos pais de que, caso a educação domiciliar seja aplicada de forma inadequada ou desregrada, pode ocasionar déficits, deficiências e problemas muito maiores do que aqueles resultantes de um processo escolar precário.
Espero que todos sintam em minhas palavras, não um tom de crítica, mas de alerta. Afinal, o objetivo da nossa próxima série de artigos será, justamente, mostrar quais são alguns dos cuidados fundamentais que devem ser tomados quando se inicia um trabalho de ensino em casa.
Agora, em contra-partida, não posso deixar de afirmar que um trabalho consistente de homeschooling qualifica as possibilidades educacionais de uma forma extraordinária. Não canso de me surpreender com os progressos incríveis dos homeschoolers que acompanho. A naturalidade e rapidez com que os conhecimentos são assimilados e as habilidades são desenvolvidas são impressionantes.
Enfim, podemos considerar a Educação Domiciliar, enquanto processo, como uma faca de dois gumes – ela pode trazer resultados muito bons ou muito ruins, dependendo da forma como o trabalho é desenvolvido.
Por isso, mais uma vez afirmo: há cuidados essenciais que não podemos ignorar quando pretendemos ensinar nossos filhos em casa, e vamos ver alguns deles nas próximas semanas.
Para dar uma ideia do que estou falando (e para despertar a curiosidade), abaixo listo alguns dos cuidados que iremos trabalhar:

  • Planejamento;
  • Rotina;
  • Espaço físico e materiais adequados;
  • Comunicação;
  • Transmissão de informações;
  • Desenvolvimento global; Socialização.

É claro que iremos trabalhar outras questões, porém os assuntos supracitados já podem dar uma ideia do que vem por aí. Neste sentido, também peço que todos participem dando sugestões de assuntos ou cuidados sobre os quais gostariam de ler em nossas postagens.
Por fim, ressalto mais uma vez que o objetivo deste texto não foi colocar em dúvida as potencialidades da Educação Domiciliar, mas sim nos fazer pensar em nosso discurso e em nossas práticas para que não sejamos ingênuos acreditando que nossos filhos estarão salvos do fracasso educativo só por estarem sendo ensinados debaixo do próprio teto.
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