segunda-feira, 26 de julho de 2010

Benefícios da Ed.Domiciliar (Parte IV)

Instrução personalizada
Algum tempo atrás conversei com uma mãe que se mostrou bastante preocupada com a educação de seus dois filhos (na época, uma menina com 11 anos e um menino com 9). Segundo ela, o garoto está indo muito bem na escola, não apresentando grandes dificuldades em qualquer disciplina. Porém, sua filha possui grandes dificuldades em algumas matérias. Aparentemente, a jovem vai bem em História e Geografia, mas não consegue progredir nas demais disciplinas – em especial: Matemática e Português.
Durante a conversa, expliquei como essa era uma situação complexa, pois o sistema escolar não permite um atendimento diferenciado nesses casos. Mesmo aulas de reforço não resolvem o problema, pois a menina não está precisando meramente de mais informação, mais exercícios ou mais horas de ensino. O que ela precisa é de uma instrução personalizada.
Cada ser humano possui um tipo de inteligência, um tipo de memória, um temperamento diferente dos demais. Essas características tornam cada criança um indivíduo único e peculiar. Chega a ser absurdo esperar e exigir que todos aprendam as mesmas coisas ao mesmo tempo e da mesma forma!
Voltando à conversa da qual falava, expliquei àquela mãe preocupada que sua filha, provavelmente, possuía um estilo de memória concreta, ou seja, ela grava muito mais facilmente informação “visíveis” e/ou “palpáveis”, apresentando dificuldade para memorizar elementos abstratos – como fórmulas matemáticas ou regras da língua portuguesa. As narrativas da História e os elementos físicos da Geografia caem como uma luva para o seu aprendizado, enquanto as demais disciplina essencialmente teóricas se tornam um pesadelo.
Mas, isso não quer dizer que ela não possa apreender conhecimentos imateriais. Pelo contrário: ela possui todo o aparato necessário para tal tarefa. Entretanto, o esforço requerido é muito maior. Além do mais, há inúmeras estratégias que podem “converter” os conhecimentos teóricos em formas visuais e materiais para que ela os retenha com maior facilidade.
O mesmo vale para todos os tipos de aprendizagem ou memorização. Todos podem aprender tudo, mas através de estratégias diferentes e em ritmos diferentes.
Com efeito, utilizar estratégias que contemplem todos os estilos de aprendizagem e memorização em uma sala de aula com 20 ou 30 alunos é, virtualmente, impossível!
Neste sentido, vemos mais uma vantagem da Educação Domiciliar. Uma vez que a criança recebe, na maior parte do tempo, uma instrução individualizada, se torna muito mais fácil personalizar o ensino conforme suas necessidades. Utilizando o exemplo já citado, caso a menina fosse instruída em casa, os pais poderiam gastar mais tempo com ela nas disciplinas cuja dificuldade é maior, além de utilizar diferentes estratégias para ajudar a pré-adolescente a ver materialidade onde, num primeiro momento, vê-se somente abstração.
Através do homeschooling temos uma adaptabilidade muito grande para a instrução. Se a criança aprende melhor com música, os pais podem utilizar mais música para o ensino. Se o aluno aprende melhor com gráficos, há possibilidade de inseri-los. Se a preferência é por exposições orais, há como proporcionar isso também. Enfim, ao ensinar em casa, os pais tem liberdade total adaptar o currículo às potencialidades e deficiências da criança. Podem reforçar o que já é positivo e trabalhar com mais foco para corrigir o que é negativo.
Obviamente, analisar, constatar e contemplar as peculiaridades de uma criança não se mostra tarefa fácil ou simples. Entretanto, o resultado qualitativo de um processo de ensino-aprendizagem pautado nas potencialidades e deficiências de um sujeito é infinitamente superior ao de um processo padronizado onde a criança precisa (de alguma forma desconhecida) se adaptar ao currículo estabelecido universalmente.
Com efeito, o currículo é uma ferramente que deve ser útil, e não atrapalhar ainda mais o processo. E, como tal, deve trabalhar em prol do sujeito aprendiz. Dessa forma, é o currículo que deve se adaptar às necessidades do educando, e não o educando à exigências do currículo. Como podemos perceber, um currículo domiciliar é ideal para que tal conceito se torne real.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Benefícios da Ed.Domiciliar (Parte III)

Desenvolvimento da capacidade de produção intelectual
Em primeiro lugar, vamos aos termos: produção intelectual” se refere a todo e qualquer produto que seja fruto de pesquisa ou de diferentes exercícios intelectuais.
Talvez o exemplo mais característico e conhecido de produto intelectual seja o livro. Todo e qualquer livro é fruto de um processo mental – trate ele de uma história fictícia, de descobertas científicas ou de qualquer outro tema. O livro é, claramente, uma produção intelectual. Entretanto, não é o único – há uma grande diversidade de tipos de produção intelectual, seja quanto a sua forma, função, linguagem, nível de aprofundamento ou qualquer outro aspecto.
Apesar dessa grande variedade, o que nos interessa é saber que o processo de criar produtos intelectuais é o que “move o mundo” em termos de conhecimento. Os avanços que temos visto há séculos em nossa sociedade só foram possíveis porque pensadores e pesquisadores fizeram suas descobertas e as compartilharam com o resto da humanidade através de algum produto intelectual. Na verdade, toda a lógica de distribuição e mediação de conhecimento é fundamentalmente pautada na existência de elementos que “materializem” e tornem disponível o conhecimento.
Como exemplo da importância da produção intelectual podemos citar a Idade Media. Nesse período, grande parte dos livros, manuscritos e outros elementos produzidos através dos séculos anteriores foram, simplesmente, perdidos, destruídos ou ignorados. Isso fez com que a humanidade regredisse e precisasse refazer infindáveis descobertas no campo do conhecimento. Não é de se estranhar que os modelos do planeta Terra da Idade Media mostrem um planeja plano, enquanto a forma elíptica de nosso mundo já houvesse sido descritas muitos séculos antes...
Dada a importância da produção intelectual, não se pode medir a atual necessidade de que os conhecimentos e descobertas sejam materializados em algum produto (físico ou virtual) para que o restante da humanidade (inclusive, nas próximas gerações) tenha acesso ao que é pensado ou praticado hoje. Com efeito, sejam descobertas, redescobertas, novas leituras ou mera descrição, a humanidade cognitiva precisa de uma constante e massiva produção intelectual.
Infelizmente, o desenvolvimento da capacidade de elaboração de produtos intelectuais parece estar sendo restringida à academia... Não vemos professores incentivando alunos da Educação Básica a produzir (de verdade). Há sim a produção de trabalhos, porém estes são meramente avaliativos e pautados em pesquisas copistas e no “regurgitar do conhecimento” de uma educação bancária1. Em geral, as crianças brasileiras não estão produzindo, mas reproduzindo.
O desenvolvimento intelectual e tecnológico seria muito maior, mais rápido e eficiente se a população como um todo estivesse equipada com os aparatos (concretos ou abstratos) necessários para produzir desde sempre. Mesmo que nem todo o produto intelectual fosse apropriado, útil ou inovador, o simples fato de sermos uma “população que produz intelectualmente” potencializaria de uma forma inigualável os avanços em termos de conhecimento. Se estivéssemos incentivando nossos filhos a produzir intelectualmente, todos os anos veríamos uma enxurrada de novas fórmulas matemáticas, circuitos eletrônicos, pensamentos filosóficos, inovações no esportes e exercícios físicos, gêneros literários, e tantos outros produtos que nem poderíamos imaginar neste momento.
E, neste sentido, a Educação Domiciliar se apresenta como uma modalidade que estimula de forma extraordinária a produção intelectual. Como dissemos anteriormente, a naturalização da educação gera o autodidatismo, que gera uma atitude pesquisadora que culmina na produção intelectual. O aluno domiciliar não se contenta com o que aprende em seus livros didáticos, ou com as explicações de seus pais-mestres, mas parte destes pontos para “saltar” na direção do conhecimento, realizando pesquisas diversas para se aprofundar no aprendizado. Mediante o direcionamento adequado, essas jornadas intelectuais irão se materializar em produtos intelectuais. O homeschooler irá começar, meramente, descrevendo o que descobriu, mas logo estará analisando os dados, comparando informações, raciocinando sobre as descobertas e chegando às suas próprias conclusões – as quais terá, naturalmente, desejo de compartilhar com outros.
Uma geração inteira de pesquisadores-produtores geraria um salto qualitativo e quantitativo em termos de produção intelectual como nunca se viu na história da humanidade. Isso pode parecer um tanto utópico, mas pode começar pelo homeschooling, ou seja, pode começar em nossas próprias casas!
Diante disso, não podemos negar: o desenvolvimento de uma capacidade de realizar produções intelectuais desde a infância é uma das grandes vantagens proporcionadas pela Educação Domiciliar.
1 Nome dado por Paulo Freire à concepção de educação na qual o educador “deposita” no educando uma grande quantidade de informação, esperando “sacar” esse capital cultural através de sua reprodução em provas e trabalhos acríticos.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Benefícios da Ed. Domiciliar (Parte II)

Desenvolvimento de Autodidatismo
Uma das maiores vantagens da Educação Domiciliar para a criança enquanto sujeito intelectualmente ativo é o desenvolvimento do autodidatismo.
Autodidatismo se refere à capacidade de uma pessoa estudar de forma sistematizada sem a necessidade de um professor ou preceptor. O sujeito autodidata1 possui a habilidade de guiar seus estudos por si mesmo, em um processo autônomo e automotivado.
Essa qualidade (extremamente almejada nos dias atuais) é desenvolvida pelo aluno domiciliar na medida em que, em seus estudos, vai dependendo cada vez menos de seus pais como mediadores do conhecimento e se empenha mais na compreensão das explicações e na execução das atividades do material didático.
Uma das chaves da educação domiciliar é tratar a aprendizagem como algo comum, natural e que faz parte da vida da criança, e isso contribui imensamente para o desenvolvimento do autodidatismo. Explico: quando um menino aprende a jogar bola, mesmo não compreendendo toda a lógica do esporte, dedica-se ao fazê-lo. Consciente ou não, a criança busca uma melhora constante de seus chutes, sua corrida, seus movimentos com a bola, etc. O prazer e o desejo por essa atividade leva o aparato neural da criança a se especializar nela, gerando uma automotivação que impele o ser a agir nessa direção. Esse processo é verdadeiro, não somente em se tratando de atividades físicas e esportivas, mas para todo e qualquer interesse que venha a surgir durante o desenvolvimento da criança.
Enquanto uma criança está sendo ensinada em casa de forma adequada, o “aprender” se torna parte de sua vida. O homeschooling naturaliza o processo de ensino-aprendizagem a ponto deste ser compreendido pela criança como equivalente aos demais elementos de sua rotina: brincadeiras, tarefas, tempo com os pais, momentos de alimentação, etc. A criança sabe que o momento de estudar é diferente dos demais em sua forma, mas o reconhece (em essência) como uma autêntica parte de sua vida normal. Diante disso, o aprendizado é elevado pela criança à categoria de “coisas minhas”, ou seja, aquilo que é visto pela criança como parte do que ela é.
Se faz necessário ressaltar, também, que a idade do sujeito é um fator determinante no processo descrito... Quanto mais nova for a criança, mais ela precisará de orientações quanto a forma como pode apurar sua habilidade, e mais facilmente ela poderá se desanimar frente a dificuldades e entraves. Dessa forma, o papel do “outro” é imprescindível. Em especial, a família da criança é incumbida de animar o sujeitinho em suas dificuldades e orientá-lo para sanar as falhas que o impedem de progredir. Porém, conforme a criança vai crescendo, a necessidade do “outro” vai diminuindo (apesar de nunca desaparecer por completo). Então, quanto mais velho o sujeito fica, mais automotivação ele vai ganhando, bem como uma maior capacidade de superar suas dificuldades e achar saídas para problemas por si só.
É nesse processo que vemos a criança passando da super-dependência da primeira infância para a interdependência real da fase adulta.
É claro que, num primeiro momento, os pais necessitarão estar quase que constantemente próximos de seus filhos para orientar os momentos de estudo. Os preceptores são necessários para garantir que os horários, locais e formas de estudo sejam respeitados pela criança, bem como para transmitir o conhecimento a ser aprendido e direcionar as atividades a serem realizadas. Porém, esse quadro não deve permanecer assim por muito tempo...
A primeira grande quebra dessa realidade é quando a criança aprende a ler e escrever bem. A partir de então, o aluno domiciliar passa a ler seu material didático sozinho, podendo entender as lições e as atividades que deverá fazer. Entretanto, o papel dos pais-professores ainda é essencial, pois o vocabulário infantil permanece limitado, bem como sua capacidade de interpretação e compreensão do desconhecido.
Enfim, quanto mais velha a criança vai ficando, mais progresso vai tendo no sentido de estudar sozinha. Por esse processo ser naturalizado, seu sistema neural estará plenamente comprometido com o desenvolvimento da automotivação e dos aparatos necessários para superar dificuldades. Em uma escala progressiva, estudar em casa vai levando o sujeito ao ponto de ser efetivamente autodidata. Nesse ponto, os pais ainda possuem seu papel na orientação e cobrança, mas o estudante passa a ser capaz de aprender sozinho, utilizando, não somente os materiais didáticos próprios do homeschooling, mas qualquer outro meio que venha a lhe auxiliar na compreensão dos conhecimentos humanos.
Esse autodidatismo proporcionado e potencializado pela Educação Domiciliar também está diretamente ligado à atitude pesquisadora desenvolvida por esse processo. Uma vez que o sujeito é automotivado a aprender por si, ele desenvolve o desejo, o anseio, a necessidade de pesquisar, de investigar, de inquerir – o que irá culminar com o próximo assunto que trataremos: o desenvolvimento da capacidade de produção intelectual.
1Este termo vem do grego autodídaktos (“auto” = por si mesmo; a si mesmo + “didaktos” = aprender).

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Benefícios da Ed. Domiciliar (Parte I)

Por que optar por ensinar os filhos em casa? Que vantagens temos ao aplicar a educação domiciliar em nossos lares? Essas são perguntas passam pela mente de muitas pessoas. Por conta disso, passamos a explicitar alguns dos principais benefícios do homeschooling.

Naturalização da aprendizagem
A aprendizagem é um processo natural. Claramente, ela também é um processo social, porém, com efeito, o “social” faz parte da natureza humana – ou seja, tudo o que se constitui como processo social também deve ser considerado como natural para a humanidade. Não gastaremos muito mais tempo com essa questão, pois não é o foco deste trabalho, mas cabe ressaltar que, para efeito de esclarecimento, consideraremos a aprendizagem como algo natural e social ao mesmo tempo, sendo esses dois aspectos indissociáveis nesse processo.
Mas, voltando ao benefício em si...
O fato da Educação Domiciliar ocorrer no dia-a-dia da criança (sem quebras de rotina, do locus ou do papel dos sujeitos envolvidos) traz como resultado uma predisposição da criança em aceitá-la como parte natural de sua vida. Começar a ter um tempo de estudo regular se torna quase como aprender uma brincadeira nova – os materiais didáticos são como brinquedos novos, as atividades avaliativas como jogos, e assim por diante.
Com isso não queremos dizer que os pais devem levar o ensino como uma brincadeira, mas que, ao se introduzir a aprendizagem elaborada em casa, esta é vista pelo filho-aluno com tanta naturalidade quanto uma nova brincadeira ou aventura.
Tenho acompanhado um fenômeno muito interessante em uma família que está ensinando suas duas filhas mais velhas em casa: ambas apresentam ânimo para o tempo de estudo equivalente ao ânimo demonstrado na ocasião de um passeio, de um jogo especial ou da aquisição de um novo brinquedo. Ou seja, em termos de intensidade ue ligação emocional, estudar tem se equiparado a essas atividades.
Por que isso acontece?
Bem, no que pese a necessidade de estudos mais aprofundados, podemos concluir que essa alegria pela instrução surge como resultado de alguns fatores:

  • Ao se introduzir o estudo elaborado, quem assume o papel de instrutor é um ou ambos os pais, ou seja, alguém que já é reconhecido pela criança como autoridade e como responsável por ensinar. Dessa forma, o filho-aluno aceita com maior facilidade o que está sendo transmitido e construído durante o processo;

  • Da mesma forma, o locus do processo é a própria casa do educando – um local reconhecido por ele como comum e seguro. Além de permitir que a criança se sinta mais à vontade para aprender, isso também permite que ela visualize seu próprio lar como “local do conhecimento”;

  • Pelo ensino ocorrer de forma individualizada, se torna mais fácil ao preceptor (pai ou mãe) adaptar o ensino e a rotina às necessidades peculiares do educando. Isso diminui a frustração da criança com relação ao processo e potencializa sua identificação com o mesmo.

Não vamos nos aprofundar nesses itens pois serão alvo de futuros artigos, mas, através do que foi exposto, já podemos ter uma noção de como a Educação Domiciliar permite que a criança aprenda de forma natural, sem graves rompimentos em sua rotina e cosmovisão.
Isso, com certeza, constitui-se um grande benefício trazido pelo homeschooling, pois já foi comprovado que a segurança e a ligação emocional do sujeito com o processo de ensino-aprendizagem, não somente potencializam, como determinam o sucesso do mesmo.
Entretanto, cabe ressaltar que este benefício, bem como todos os outros que trabalharemos a seguir, não surgem somente pela aplicação de um ensino domiciliar por si só... O homeschooling traz grandes benefícios, mas somente se for aplicado de forma correta, com organização e disciplina (tanto para os filhos-alunos quanto para os pais-professores). Enfim, o que determina as vantagens e qualidade do processo de ensino não é a modalidade em si, mas sua aplicação de forma adequada e consciente.
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